“Quando eu me amo eu me
liberto do peso e da necessidade de que você me ame”
(Claudinei Almeida
Milsone)
AMOR
Nenhuma
palavra no mundo foi tão definida, conceituada e debatida quanto a palavra
amor. Ela aparece nos textos religiosos, literários, em poesias, canções e em
todas as formas de expressão possíveis e imaginárias. De tudo que eu já li, vi,
ouvi e presenciei a respeito do amor, a definição que mais se aproxima da
essência e da pureza transmitida por essa palavra foi dada por Naomi Raiselle,
nos seguintes termos extraído da página 97 do livro: O Livro do Perdão – O
Caminho para o Coração Tranquilo, de autoria de Robin Casarjian, Editora Rocco,
3ª edição.
“O Amor não é mais nem
menos do que a expressão simples, honesta e natural da nossa totalidade, da
nossa completa auto-aceitação”
Essa
definição de Amor me faz lembrar de uma música da década de 80, da Banda
Ultraje a Rigor, chamada Eu me Amo. Para quem não viveu essa fase ou não se
lembra da canção, segue a letra abaixo:
Há quanto tempo eu vinha
me procurando
Quanto tempo faz, já nem
lembro mais
Sempre correndo atrás de
mim feito um louco
Tentando sair desse meu
sufoco
Eu era tudo que eu podia
querer
Era tão simples e eu
custei pra aprender
Daqui pra frente nova
vida eu terei
Sempre a meu lado bem
feliz eu serei
Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem
mim
Como foi bom eu ter
aparecido
Nessa minha vida já um
tanto sofrida
Já não sabia mais o que
fazer
Pra eu gostar de mim, me
aceitar assim
Eu que queria tanto ter
alguém
Agora eu sei sem mim eu
não sou ninguém
Longe de mim nada mais
faz sentido
Pra toda vida eu quero
estar comigo
Foi tão difícil pra eu me
encontrar
É muito fácil um grande
amor acabar, mas
Eu vou lutar por esse
amor até o fim
Não vou mais deixar eu
fugir de mim
Agora eu tenho uma razão
pra viver
Agora eu posso até gostar
de você
Completamente eu vou
poder me entregar
É bem melhor você sabendo
se amar
Outra
definição interessante e que merecer ser trazida nesse contexto foi dada por
Clovis de Barros Filho, professor de Ética, da Escola de Comunicações e Artes
da USP, em entrevista ao Jô Soares:
“Pare pra pensar. Se você
vai ter que conviver com você mesmo até o fim, se você vai ter que se aguentar
até o fim, se você vai ser expectador de você mesmo até o fim, é melhor que se
encante com você e com o que você faz, senão dificilmente a vida vai valer a
pena”
Continuando
nessa linha de raciocínio, mas trazendo à tona uma visão mais Espiritualista do
Amor, quem não conhece a máxima, que não é contestada por nenhuma crença ou
religião, que diz: “Ame o próximo como a ti mesmo”, ou em outras palavras ame o
próximo do mesmo jeito como você se ama.
Veja
que tanto na frase acima, como na letra da música, no texto extraído do livro e
no pensamento do professor Clóvis, o EU
ou o TI MESMO vem antes.
Porque
estou falando de tudo isso?
Não,
eu não estou convidando ninguém a ser narcisista ou nutrir um sentimento de
apego a si mesmo, pelo contrário.
O fato é que nos venderam uma ideia errônea de
que somos seres incompletos. Quantas vezes já não ouvimos alguém dizer: “Eu preciso achar minha alma gêmea”, ou,
“Quando é que vou encontrar minha tampa”,
ou ainda, “Minha outra metade está
perdida por aí”.
Toda
vez que as pessoas falam de Amor elas sempre colocam mais alguém nessa relação
e dividem em Amor de Mãe ou Amor de Pai (tem um filho nessa relação), Amor de
Esposa ou Amor de Marido (existe o cônjuge), Amor de Irmão (há um irmão no
meio), Amor de Amigo (há uma outra pessoa ligada pelo vínculo da amizade).
Não
há nada de errado nessas definições, todavia, elas nos trazem uma falsa
percepção de que somente seremos felizes ou completos quando tivermos outra
pessoa em nossa vida e nos esquecemos de que já nascemos completos. E agindo
dessa forma invertemos o processo natural do Amor, que ao invés de se
manifestar de dentro para fora passa a manifestar-se de fora para dentro.
Todos
devem concordar que nós só doamos aos outros aquilo que temos. Por exemplo, se
eu parar em um semáforo e uma criança pedir para eu comprar um pacote de balas
eu só vou concretizar tal fato se tiver dinheiro em meu bolso ou carteira, caso
contrário, mesmo que eu queira não vou poder ajudar.
Da
mesma forma, se uma pessoa espere que eu a ame incondicionalmente eu só vou
conseguir atender a sua expectativa se antes eu me amar incondicionalmente. Se
alguém me ofender ou me prejudicar e após vier pedir perdão eu somente
conseguirei perdoar se antes eu tiver aprendido a me perdoar. Se o outro
aguarda minha compreensão isso só será possível se eu antes tenha aprendido a
ser compreensivo comigo mesmo.
Mais
uma vez, somente doamos aos outros aquilo que temos dentro de nós. Portanto,
torna-se impossível eu amar, perdoar, compreender meu semelhante se eu não
consigo agir desta forma comigo mesmo.
Portanto,
não é o outro que tem que me completar, mas sim eu mesmo, pois uma vez completo
fica fácil de compartilhar o amor, o perdão, a compreensão a todas as pessoas.
Agora,
se eu jogo essa responsabilidade para o outro e este vem a faltar ou a me
abandonar eu volto a ser incompleto, infeliz, a viver sem amor. Nestes casos,
não estamos falando de Amor, mas de ilusões, de romances, paixões, vícios,
moedas de troca, tudo menos Amor, pois o verdadeiro Amor está em nosso interior
e nuca nos abandona.
Quantas
vezes não ouvimos pessoas afirmando: “Ah fulano se matou por Amor”, ou, “Beltrano matou o outro por Amor”. São
os chamados crimes passionais. Isso pode ser tudo, posse, obsessão, mas jamais
Amor. Suicídio, Homicídio, Crimes Passionais não podem ser sinônimo de Amor.
O
verdadeiro Amor é aquele que liberta, que deseja a felicidade da outra pessoa
mesmo que não seja ao seu lado. É o apego com desapego. Isso não impede de que
eu sinta saudades, mas de uma forma saudável e que é perfeitamente compatível
com a essência e a pureza do Amor.
Desta
forma, o verdadeiro Amor está dentro de nós, e ele por si só nos completa, nos
faz inteiro e quando eu alcanço sua essência e sua pureza torna-se fácil
compartilhá-lo com todas as pessoas que cruzam o meu caminho, sem qualquer tipo
de amarras. Passamos a ser multiplicadores desse sentimento mágico.
A
escritora Martha Medeiros tem um pensamento análogo que vai ao encontro do
texto e que merece ser transcrito:
“Fizeram a gente
acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha
sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos
inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a
responsabilidade de completar o que nos falta. A gente cresce
através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável”.
Assim,
a medida que a compaixão e o entendimento sobre nós mesmos cresce, começamos a
experimentar a verdadeira realidade do amor em nossas vidas.
Entretanto, não se
preocupe se você ainda não alcançou esse estágio, pois o amor é paciente e ele
aguarda por trás das nossas frágeis ilusões o dia em que alcançaremos a nossa
glória inata.
E
para inspirá-los, fiquem com a letra da música Monte Castelo, da Banda Legião
Urbana:
Ainda
que eu falasse
A
língua dos homens
E
falasse a língua dos anjos
Sem
amor eu nada seria
É
só o amor! É só o amor
Que
conhece o que é verdade
O
amor é bom, não quer o mal
Não
sente inveja ou se envaidece
O
amor é o fogo que arde sem se ver
É
ferida que dói e não se sente
É
um contentamento descontente
É
dor que desatina sem doer
Ainda
que eu falasse
A
língua dos homens
E
falasse a língua dos anjos
Sem
amor eu nada seria
É
um não querer mais que bem querer
É
solitário andar por entre a gente
É
um não contentar-se de contente
É
cuidar que se ganha em se perder
É
um estar-se preso por vontade
É
servir a quem vence, o vencedor
É
um ter com quem nos mata a lealdade
Tão
contrário a si é o mesmo amor
Estou
acordado e todos dormem
Todos
dormem, todos dormem
Agora
vejo em parte
Mas
então veremos face a face
É
só o amor! É só o amor
Que
conhece o que é verdade
Ainda
que eu falasse
A
língua dos homens
E
falasse a língua dos anjos
Sem
amor eu nada seria
NAMASTÊ
“O
Deus que habita em mim, saúda o Deus que habita em você”
(Texto
de Autoria de Claudinei Almeida Milsone)